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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Reflexos no espelho da alma

Quando intenciono praticar a escrita vejo-me arrebatada de maneira contundente às mazelas sociais. Primeiro, pelo sentimento de não conformismo, segundo, por se abrirem dentro de mim as janelas da alma.Os meios de comunicação teleportam-nos incisivamente de um ponto a outro por realidades desconfortantes: se de um lado temos o ilusório da felicidade elitizada, de outro temos o brutal da pobreza e da marginalidade sendo tratado como corriqueiro; Se por um lado, temos o fictício de telenovelas globais tentando retratar a mesquinhez de vidas inventadas, temos a vida em tempo real sendo plantada em nossa frente, por meio de um cárcere ao vivo ou em depoimentos desnorteantes de entes que perderam alguém brutalmente, ou ainda, de forma sensacionalista, revemos inúmeras vezes e, em inúmeros meios, o ápice da loucura de alguém que entra em uma escola e atira em adolescentes inocentes, uma criança de dez anos que atira em sua professora e se mata em seguida, ou corruptos que nunca vão ao banco dos réus, com prós e contras. O pior de tudo é, que todos esses, assim como os personagens das telenovelas, serão esquecidos para darem lugar a novas histórias e novas personagens que não povoarão o imaginário, mas sim, lamentáveis histórias da vida real.
Junto com o não conformismo, ficam também os tantos questionamentos: De fato chegamos a tal ponto? Em quais espelhos temos nos refletido para reproduzirmos imagens tão grotescas de nós? Pais, professores, família, governo, que papel tem nesta trama?
Se dentro dos muros escolares analfabetizam-se, procura-se culpar seus professores que, por sua vez, procuram culpar a falta de suporte do governo que, transfere a culpa para os primeiros e apontam IDEB’s baixo como reflexo da suposta falta de competência dos mesmos que, em contrapartida tentam transferir sua culpa à família, esta última, desestruturada, aponta novamente o governo. E por aí vai num vicioso círculo de procura aos culpados, ignorando-se todas as vítimas dessa conspiração fantasmagórica e, quando já não há respostas plausíveis, o “sistema” passa a alcunhar aqueles que não estão cumprindo seu papel. Todos querem se isentar do surgimento de tantos fenômenos sociais.
Talvez haja tantos culpados porque existem muitas vítimas ou as próprias vítimas sejam culpados ou, aqueles apontados como culpados sejam também vítimas. Na verdade, quando o indivíduo transpõe horizontes ele percebe que se tornou um produto da desumanização, onde as aberrações são simples fatos e os atos de humanização é que se tornaram aberrações.
O que refletimos é na verdade, não a nossa própria imagem, pois, creio que cada um gostaria de refletir sempre algo mais belo do que aquilo que se é. Penso que refletimos imagens do espelho da alma e, a alma humana tem estado com seus espelhos de vidros embaçados, talvez para não ver-se refletido feiamente ou porque alguns se quebram antes mesmo de ter podido ver refletida uma imagem límpida, pois, a alma humana só reflete verdades que o coração aprendeu a construir.


ADRIANA PESCA