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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Aprender, um ensinamento diário, um aprendizado infinito

Aprender é muito mais que uma simples tarefa que não deveria jamais ser confundida com o reproduzir, embora, o próprio ato de reproduzir, se  alimentado por pontos positivos, pode nos levar ao aprendizado. Se reproduzirmos coisas boas, em algum momento aprenderemos a ser bons, se o fizermos com as coisas ruins, aprenderemos da forma mais difícil que elas eram ruins.
O aprendizado requer certezas, requer crença em pequenos milagres terrenos, que muitas vezes vendamos os olhos para não enxergá-los e para podermos seguir céticos em dizer que milagres não existem. Até os céticos aprendem muitas coisas com seu próprio ceticismo. Eu, por exemplo, reluto de vez em quando com esse processo evolutivo que parece nos tornar menos humanos e me deparo constantemente com os aprendizados que obrigo a ter quando baixo a guarda. Se ontem eu não gostava porque não conhecia e não havia explorado seu universo, hoje busco as melhores ferramentas que me são oferecidas, se ontem dizia não quero, hoje tenho o direito de repensar o fato, se antes não acreditava que tentar é um bom começo, hoje começo e recomeço quantas vezes forem necessárias. Foi assim, que aprendendo a aprender me tornei professora. Quem mais poderia conviver com os aprendizados cotidianos?
 São entre as nossas descrenças que as crenças nascem, e não falo de religiosidade alienante, falo de fé, de acreditar que todo dia é tempo de um bom começo... Nessa breve passagem, ainda a engatinhar pelos mistérios da vida vou então aprendendo e apreendendo, inclusive aprendendo a desaprender, porque existem coisas que precisamos deixar com que se tornem desapegos.
Assim, como quem faz rascunhos, vou-me (re) construindo. Quem disse que para isso tenho que deixar de olhar pra trás? Olho pra trás por muitos motivos: para que não haja dúvidas de  que quero seguir em frente, para que o arrependimento não me impeça de caminhar, para saber quem eu levo comigo, para  fazer das quedas fontes de muita energia, para romper com velhos paradigmas, para chorar de saudade e sorrir sozinha das fúteis lembranças, para reviver aquela mágoa que me previne de cair de novo, enfim olhar para trás nem sempre quer dizer  estacionar, tem dias em que fazê-lo é a única forma de não permitir que o sono da desistência recaia sobre nós.
Todos os dias me vejo, compulsivamente, aprendendo e reaprendendo e, com isso me tornando mais humana, o que dentro da realidade imutável que segue, jamais quererá dizer me tornando mais perfeita, pois, imperfeição é um traço da natureza humana que faz parte do seu processo de vir a ser. Aprender é uma arte, que imita a vida, que imita a arte... O que hoje me lança ao fundo do poço, amanhã me mostra que chegar o fundo é estratégia para não continuarmos a desconhecer o sabor insalubre de sua chegada.  Assim, como discípulas de uma eterna vida mestra, somos ensinados que o próprio aprender é parte do constructo que há em nós.
Os ensinamentos estão, portanto, em toda parte, no querer e no não querer, no alçar voo e no aterrissar, no sim e no não, e inclusive no talvez... O que não se pode é acreditarmos que já somos sábios o bastante para não aceitarmos tais ensinamentos, porque aí, no mais redundante dos lugares comuns, obrigo-me a dizer que já não seria o erro cabível ao ser humano, mas, a eterna burrice que comanda os fracos.
ADRIANA PESCA

Meu Brasil... Brasileiro?

 A existência de realidades que chocam nem sempre são suficientes para proporcionarem o choque de realidade que de fato precisamos ter, somente sentindo na pele sua aspereza é que somos capazes de compreender que um dia será preciso sair da zona de conforto e irmos em direção à zona de confronto.
O dia 10 de Abril de 2012 talvez fique marcado na história, não do Brasil, mas de povos que têm na base de suas conquistas lutas inacabáveis com o poder de uma nação construída com sangue e a custa de entraves políticos que devoram o humanitarismo, atropela valores e forma bases que pendem em sua balança na qual separa, seleciona e exclui. Talvez seja, porém, essa data memorável  traduzida de forma disforme e se torne motivo de fantasiosas reproduções como o próprio dia 19 de Abril.
Pensando em sobre o que escrever não pude deixar de ceder e deixar-me levar pela revolta em minhas veias, pois, em meio a uma multidão, onde de uma lado tínhamos indígenas trajados em suas vestes, carregando no ombro uma história de lutas antepassadas, no canto um clamor por respeito a direitos institucionalizados, nos pés a dança que marca o passo cansado de quem só consegue algo por meio de pedidos desesperados e humilhantes. Do outro lado, parte de uma sociedade revoltada, presas em seus veículos, blindadas pelos “achismos” de quem ainda acredita que nós, indígenas, ainda somos os culpados pelo fracasso do Brasil. E, em meio a toda essa controvérsia, representantes da segurança pública tentando assegurar que em algum momento a ira poderia se inflamar e então a ação poderia se concretizar. Quem afinal é mais brasileiro? Quem, meu Brasil, é mais brasileiro?
Fico me perguntando, até quando, até quando meu Deus?
A história do Brasil está mesclada pelo uso abusivo das versões. Quem conta seu conto aumenta seu ponto, aumenta também suas vírgulas e suas reticências... O que me provoca, no entanto, e me evoca a escrever é por reconhecer que faço parte de um Povo, de uma sociedade, e desse país chamado Brasil e, que nos genes da minha própria história, tem resquícios de uma desigualdade gritante que faz dos direitos meros escritos, pois, uma vez que não são respeitados e precisam ser exigidos e mesmo, mendigados, tornam-se criações soltas.
Sou obrigada a pensar em mim, ser social, ser Pataxó, ser brasileiro... No meu país e suas leis, nos direitos humanos que nos garantem IGUALDADE, LIBERDADE E FRATERNIDADE.
Ah, meu Brasil, meu Brasil brasileiro... Quem pintou sua bandeira com cores tão alegres esqueceu-se de mantê-las vivas, pintaram-se também de rubro as guerras que não cessam, de cinza as esperanças outrora verdes, de incolor as nossas leis, pois, parecem não serem vistas. No esboço de nossa história, pintaram-se de cores as peles e os valores promovendo diferenças que colocam barreiras e entraves entre povos de uma mesma nação, brasileiros que se dividem e dividem o país entre os que lutam e os que se conformam, os que clamam e os que se calam, os que mandam e os que obedecem, os que criam as leis e os que as descumprem... Linhas fronteiriças que fazem desse Brasil, um país de vastas possibilidades e de poucas certezas. Ah, esse meu Brasil... Será mesmo um Brasil brasileiro??
ADRIANA PESCA