Total de visualizações

sexta-feira, 30 de março de 2012

Assim caminha a humanidade


É impossível não repararmos na pressa com a qual a humanidade tem se projetado, passamos de uma era a outra numa velocidade tamanha... Mais impossível ainda é não percebermos que junto com a pressa do mundo, apressam-se também as relações humanas. Da invenção da roda ao carro conversível, do 14-BIS aos jatinhos, do sinal de fumaça aos telégrafos e destes aos telefones sem fio, aos celulares cada vez mais sofisticados, da máquina de escrever aos computadores, destes aos notebooks, andróides, ipods, ipeds, tablets.... Do outro lado temos também: Do beijo de boa noite, a somente boa noite, das conversas ao ar livre às janelas do Messenger, dos abraços apertados às cutucadas no facebook (pensando bem, cutucar ao vivo, sei não), das mãos, beijos, carícias e um sorvete na praça, aos sites de relacionamento...  Cada vez mais sofisticados, cada vez mais distantes.
O que dizer da era tecnológica, o que dizer da geração on line, o que dizer das gerações que curtem e compartilham? O que dizer??? É uma geração que tem pressa de chegar, embora, não se saiba onde.
Seria hipocrisia não aplaudir de pé toda esta fantástica evolução, o homem é um ser capaz de transformar e transcender... O que me deixa preocupada é que essa transformação produz dois tipos de efeitos. Existem as glórias das grandes descobertas: a penicilina, as células tronco, o Viagra... E, as inglórias do mau uso da inteligência: as armas nucleares, a bomba atômica, as leis de efeitos ilegais. A humanidade brinca de Deus, mas, ao contrário Dele, escreve torto por linhas certas. Qual será de fato o futuro da humanidade?
Poderia citar coisas banais, que eu mesma já me vi fazendo, como ser humano errôneo que sou. Basta colocarmos o termômetro da sensatez, mas, atenho-me a coisas que fazem parte do próprio sentido que se dá à evolução. Inquieto-me, porém.
Que realidade é essa? Causam-se mortes em nome de Deus, fala-se em igualdade quando o que queremos é respeito ao que temos de diferente (afinal queremos ser iguais ou diferentes?), proíbem-se as palmadas educativas e em troca eles nos mostram como deixaram de ser crianças  (segurando armas e causando terror), pregam a pobreza do evangelho e pedem altas quantias para o  crescimento do Reino, vemos o noticiário com altos índices de pobreza  e fome na Tailândia e trocamos de canal,  ou passamos para outra página no navegador após um  sonoro nooossa, de repúdio aos governantes, mas, ficamos horas e horas votando para que pessoas financeiramente seguras ganhem um milhão e meio de reais ou, se não o fazemos, damos IBOP, assistindo ao BBB(claro, dentre todos esses, não passo ilesa, pois, confesso, liguei minha TV, para ver o BBB).
Poderia enumerar muitas outras coisas, poderia dizer ainda que continuamos avançando, embora, todo avanço cause uma dúbia aceitação: igualdade a todos sim, casamento gay não; cotas raciais sim, negros na presidência não; mulheres que votam sim, presidentes mulheres não,  igualdade de gênero sim, mulheres chefiando não, e homens na cozinha, não, não e não;  E quem implantou o universidade para todos???  Presidente pobre, Nãããoooooooooooo... Contradições, contrasensos, controvérsias. Tudo isso é o caminho da humanidade, conquistamos tudo isso e mudamos nossa realidade, o que não conseguimos mudar é a cabeça ultrapassada de muita gente.
Esse é o caminho da humanidade, largos passos apressados, mas, uma lenta chegada ao que poderemos chamar de “transformação”. Assim caminha a humanidade... Assim caminhamos, humanidade.

ADRIANA PESCA

terça-feira, 27 de março de 2012

Entre nós


Tentar compreender o amor assemelha-se a imergir em um oceano, é possível contemplarmos sua amplitude e vislumbrar seus limites, porém, sob tal superfície há outro mundo, totalmente incompreensível, tamanho é o seu subterfúgio, no entanto, é possível percebermos, por meio da explosão de vida em seu interior, que um mergulho profundo não nos permitiria jamais emergir sem que nos tornássemos outro, ainda que sejamos os mesmos.
O que nos faz compreender o amor não é o significado real de suas definições, mas, sua própria indefinição presente no que costumamos chamar de “relação”. Como compreender um sentimento tão abstrato sem que antes tenhamos provado de seus efeitos colaterais. “Que eu possa me dizer do amor que tive:
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.” Dizia então, Vinícius de morais no que considero um dos mais belos sonetos, o soneto de fidelidade.  Caberia o infinito numa sentença de durabilidade?
O amor precisa de uma construção que caiba no plural de nossas certezas, onde haja sempre o “nós”, intenso como o próprio amor, cuja infinitude não se desfaça e o que dure, perdure sem que haja uma só intenção destinada a um só. O amor caminha sim em duas vias, é possível que em uma dessas andanças sejamos vistos com saudade de sermos um, porém, não com o mesmo sentimento de outrora, pois,  a própria liberdade leva-nos ao encontro do outro numa espontaneidade sem pudor.
Quando nos permitimos dizer o que há entre nós, passamos a compreender o amor, não descrevendo-o,  mas, simplesmente percebendo-o em cada gesto, em cada intencionalidade, sem máscaras e maquiagens, sem meio termos e meias palavras, enfim, é algo oferecido, e não pedido, exigido, cobrado...  Não pode haver entre nós, lacunas, espaços vazios, pontas soltas... Não se pode permitir que haja entre nós rascunhos, realidade crua, distâncias entremeadas pela presença não sentida.
A compreensão do amor é antes de tudo a compreensão de quem o carrega, a compreensão de que dois corpos são simplesmente  duas extensões metafísicas, mas, duas almas são o encontro de mundos distintos que não anseiam se completar pelas faltas que lhes cabem e sim que anseiam unir-se para serem acrescentados. Se antes, um só era capaz de descobrir a vastidão do mundo, dois se fazem capazes de fazer desta própria vastidão a certeza de que somente se pode ver o outro quando em si há espaço para  ver uma continuação  daquilo que somente entre,  “ o entre nós”, pode ser concebido, percebido e mesmo, compreendido. Só assim se pode tentar compreender o amor, esse sentimento de “pra sempres tão relativos”.

ADRIANA PESCA

quinta-feira, 22 de março de 2012

MEMÓRIAS


Memórias são pedacinhos de vida armazenados no cantinho de nossa lembrança. São elas que nos dão a certeza plena daquilo que somos. Por trás dos sonhos futuristas estão as centelhas de uma vida construída dia após dia, estacionadas numa parte do tempo que não volta, mas, que é capaz de produzir o presente.
  Há quem diga que a velhice é a fase da vida onde se volta a ser criança. Embora, ser criança seja uma dádiva, poderíamos pensar em tais afirmações como apenas parte de uma verdade concebida. A infância é a construção memorável do que seremos, a velhice por sua vez é a memorável recordação do que um dia acreditamos podermos ser e que, sendo-o, se pode ser revivido na eterna volta ao passado, preso em nosso córtex cerebral, a que poderíamos imaginativamente chamar de” máquina do tempo”.
Sim, às vezes é preciso ter “memória de elefante” para guardarmos tanta coisa, engavetadas, armazenadas, portanto, é importante retirar os acúmulos desnecessários também, pois, a memória é capaz de guardar lembranças que despertam sentimentos mesquinhos capazes de transformar a lucidez em obscuridade. A memória é uma arma do ser humano contra a passagem do tempo, pois, com ela mantemos esse tempo inconstante onde é possível pará-lo quando sentirmos a velocidade de suas travessias.
Se um dia acordássemos sem memória, como seria? Seria como ter em nossas mãos uma página em branco cujo conteúdo foi apagado misteriosamente, cabendo a nós reescrever uma história começada a partir do meio. Por isso, podemos pensá-la como algo tão valioso, pois, somente através desta é que poderemos contar nossa história, cantar nossas velhas canções, aquelas que mais marcaram em dias de chuva ou de sol, reviver cenas daquele filme água com açúcar e novamente se emocionar, trechos daquele livro lido há tempos, mas, vivo naquilo que nos tocou, amizades de infância que nunca se foram por completo, pois, alimentam nosso imaginário com suas participações especiais, a roupa que vestíamos naquele primeiro encontro, palavras que dissemos, fragrâncias que aspiramos,  aquele pilequinho constrangedor que gerou uma infinidade de gargalhadas e continua sendo motivo de piada, enfim, memórias memoráveis e rememoráveis que nunca se apagam.
Tudo isso é uma prova de nossa vida redigida em capítulos, histórias que compõem o nosso mapa imaginário, lembranças vívidas de nossa itinerância . Não é possível que passemos  por essa vida sem levar dela, no baú de nossas recordações, fotografias e momentos... Não é possível  não deixarmos também de nós, memórias para a vida de alguém... No sentido daquilo que somos é preciso que sejamos sempre memórias, de quem passou por nós e deixou de si, de quem levou de nós, de quem se fez memória em nós e para nós. Na intensa  arte de compor contos, que saibamos saber contar e recontar aquilo que só com boas memórias nos tornamos  capazes.

ADRIANA PESCA

quarta-feira, 21 de março de 2012

Escolhas

Todos os dias paro para  refletir sobre minhas escolhas e sempre me pergunto: será que fiz a escolha certa? Quase sempre a escolha certa só é de fato concedida após termos feito algumas escolhas erradas.

Escolher é algo que fazemos cotidianamente  desde o amanhecer , escolhemos a roupa com a qual iremos sair, o alimento do café da manhã, a rua pela qual iremos, por onde começaremos o trabalho, enfim, coisas corriqueiras  mas, que precisam ser devidamente elaboradas, pois, corremos o risco  de, mesmo nessas menores escolhas, cometermos equívocos que gerem consequências  drásticas: a roupa errada pode nos tornar patéticos, um alimento errado pode causar uma indigestão matinal,  a escolha de qualquer rua para a ida ao trabalho pode  nos custar um atraso desnecessário. Existem, porém, aqueles que já condicionaram suas escolhas, e estas, uma vez definidas são repetidas e tornam-se cômodas o bastante para não serem mudadas.
O que de fato é algo a ser refletido caríssimos, são as escolhas que vão além daquilo que fazemos no dia a dia. São as escolhas que definem nossas vivências, escolhas essas que muitas vezes são irreversíveis e sofremos com as conseqüências de algo que nós mesmos construímos para um castelo de sombras que nos acompanha.
Nós somos feitos de tais escolhas e somos resultado de nossas escolhas ou até das escolhas de outrem. Somos parte de um mundo onde cada passo é um novo passo e  o não caminhar é  ponto de partida para o não alcançar.
É possível que sejamos conduzidos, é possível que sejamos condutores. Todo caminho tem duas perspectivas e duas possibilidades e, cada uma leva ao sim e ao não. Fazermos o que de fato é certo é algo plausível  mas, nem sempre acertaremos o primeiro alvo, o importante porém,  é que o primeiro alvo que não fora acertado crie uma visão ampliada e permita-nos fazer um novo caminho, onde cada lance se destine a acertar.

ADRIANA PESCA

AUSÊNCIAS

  A AUSÊNCIA QUE ME CERCA TORNA-ME AUSENTE DE MIM POIS NA SAUDADE, SINTO TAMBÉM UM FORTE AROMA DE SOLIDÃO." 
   Não é fácil sentir saudades, mas, é gostoso senti-la como sopro de lembrança de algo que nos faz falta. A ausência causa-nos esta saudade, nem sempre bem vinda, por vezes forçada, quase nunca compreendida. Saudade só é boa quando sabemos que um dia ela vai passar, porém, quando do contrário, ela se torna uma condição permanente causa dor, impotência, inércia.
   A ausência meus caros, é estado de espírito, pois, nos torna seres nostálgicos, mesmo que a procura por outros estados se faça, o espaço não mais preenchido será alvo de uma perceptível sensação de vazio.
  Um amigo que se foi, um amor que partiu e partiu consigo o nosso coração, um avô que já não traz calmaria e risos, uma avó que não exala mais cheiro de comida caseira, um pai, uma mãe, um filho, enfim, um acréscimo que fora transformado em ausência sem que pudéssemos escolher não caminhar sozinhos. Saudades que são sentidas no silêncio da alma mesmo quando largos sorrisos invadem nosso rosto.
  Mas, essa ausência tão sentida não nos impede de perceber as presenças que marcam nosso dia a dia, não em substituição ao insubstituível, mas, como novo acréscimo de um mar de novas possibilidades. Às vezes escolhemos estar ausentes da vida de alguém... Às vezes somos impedidos de estar presentes. Isso é marca, e toda marca há de se tornar cicatriz.
  Desse modo, abram sempre as janelas da alma para receberem os seus, não se ausentem daqueles que amam enquanto houver possibilidades, não permita que seu rosto, sua voz, seus trejeitos, se tornem esquecimento na vida de alguém que, o que mais quis foi ter sua presença e já tendo-a por um breve momento, se desfez com a partida ou com a falta de tempo.
  A vida se esvai caríssimos, e se não formos chama viva na vida daqueles que tanto sentem nossa ausência, por mais diminuta que seja, correremos o risco de tornar costumeiro o sentimento de falta de tal forma que um dia, esta já não seja sentida, existirão dias em que, nem nós poderemos mais estar presentes, nem o outro, ou porque tiveram que partir, ou porque partimos, porem, cujo caminho da volta já não exista mais, pois, a própria vida que possibilita as idas e voltas, tenha também ido embora sem que a despedida tenha sido de um simples até breve, mas sim, de um eterno adeus.
 ADRIANA PESCA

DESAFIOS

QUE BOM SERIA SE FÔSSEMOS CAPAZES DE ENFRENTAR OS DESAFIOS SEM NOS SENTIRMOS OBRIGADOS A ROMPER COM NOSSOS PRÓPRIOS MEDOS, NEM SEMPRE O QUE NOS IMPULSIONA É A CERTEZA DE NOSSA FORÇA IMBATÍVEL, MAS, A NECESSIDADE DE FAZER DOS NOSSOS MEDOS UMA FORMA DE ENFRENTAMENTO.
A HUMANIDADE É UMA ETERNA FONTE DE ESTUDO, POIS, COMPREENDÊ-LA É UMA TAREFA INFINITA, O INACABADO QUE A RECOBRE FAZ DELA UM ENIGMA CUJAS RESPOSTAS GERAM SEMPE NOVAS PERGUNTAS. BASTA OLHARMOS PRA NÓS MESMOS, COMO MOLDE CARATERÍSTICO DA ESPÉCIE PARA ENTEDERMOS POR QUE SOMOS TÃO DESAFIADOS AO MESMO TEMPO EM QUE SOMOS TÃO DESAFIADORES. O QUE NOS MOVE SÃO AS COMPLEXIDADES PRESENTES NAS INCERTEZAS, NAS BUSCAS INCESSANTES, NAS VOLTAS E REVIRAVOLTAS QUE OCASIONAMOS E QUE JULGAMOS SEREM FRUTOS DE UM MUNDO QUE NÃO PARA.
SOMOS SERES INACABADOS, SEM DÚVIDA, E POR ISSO FAZEMOS DOS DESAFIOS, METAS E DAS METAS, DESAFIOS. ESTA É MARCA QUE FAZ DE NÓS INCONFUNDÍVEIS E ÚNICOS. SOMOS CAPAZES DE SEMEAR OTIMISMO, MESMO QUANDO ESTAMOS PESSIMISTAS EM DEMASIA, DE PEDIR QUE SIGAM EM FRENTE, MESMO QUANDO NÓS MESMOS JÁ DESISTIMOS, DE SORRIR, MESMO QUANDO TRISTES ESTAMOS, DE AMAR, MESMO QUE A DESILUSÃO SEJA A ANFITRIÃ DOS NOSSOS SENTIMENTOS. FAZEMOS DOS DESAFIOS UM ÁLIBE PARA QUE NÓS MESMOS POSSAMOS OS PROPOR. DEBAIXO DE NOSSAS ARMADURAS DE AÇO EXISTE A EPIDERME, MAS, PRA SE CHEGAR A ELA SERÁ PRECISO PRIMEIRO TRANSPASSÁ-LA, E EIS AÍ O MAIOR DOS DESAFIOS, ULTRPASSAR BARRERIRAS INTRANSPONÍVEIS E TOCAR NA CONCRETUDE DE NOSSAS POSSIBILIDADES, ANTES DISSO, PRECISAMOS QUE NÓS MESMOS APRENDAMOS A FAZÊ-LO, A TOCAR O INTRASPONÍVEL QUE HÁ EM NÓS.
QUANDO ACEITAMOS OS DESAFIOS, QUANDO NOS IMPÕEM DESAFIOS, QUANDO PRPOPOMOS DESAFIOS, SEJA COMO FOR, ESTAMOS ABRINDO A PORTA PARA QUE ENTREM E CONHEÇAM OS ESPAÇOS POR ONDE IRÃO GUERREAR, PORÉM, QUANDO NÓS MESMOS NÃO O CONHCEMOS AINDA, OFERECEMOS UM LABIRINTO DE ONDE MUITOS NÃO SAIRÃO SEM ANTES SUFOCAR NOSSAS EMOÇÕES.
DASAFIOS SÃO PARTES INTERESSANTES DAS DISPUTAS DIÁRIAS, PORQUE A VIDA FAZ-SE DESSAS COMPETIÇÕES BIZARRAS ONDE SE SEPARAM OS FORTES DOS FRACOS AO INVÉS DE SEPARAREM OS PERSISTENTES DOS DESACREDITADOS. NÃO SE PODE CALAR A VOZ DA INJUSTIÇA ENQUANTO NÓS MESMOS NÃO APRENDERMOS A FALAR EM UNÍSSONO E ESTE É TAMBÉM UM GRANDE DESAFIO. O MAIOR DESAFIO, PORÉM, É TIRARMOS LIÇÕES QUE TOQUEM O NOSSO EGO E DE REPENTE NOS FAÇAM ENTENDER QUE MAIS FRACOS NOS TORNAMOS, NÃO SE PERDEMOS QUANDO SE PROPUNHA GANHAR, MAS, SE DESISTIMOS QUANDO O MOMENTO ERA DE ACEITAR O DESAFIO.

ADRIANA PESCA

O SILÊNCIO NECESSÁRIO

O silêncio não quer dizer solidão, mas, é a própria voz da consciência sussurrando em nossos ouvidos.
 Diante de tantos barulhos do mundo urbanizado desaprendemos a ouvir os sons do silêncio. Perguntamo-nos então: Como é possível ouvir os sons do silêncio, se o próprio silêncio nos remete à ausência destes?
Quem está em sintonia consigo entende o seu silêncio como um tempo de ouvir o que a presença das palavras não nos permite fazê-lo: As batidas do coração que denunciam o pulsar da vida, os sons da natureza ainda existentes, o barulho das ondas (para quem tem o privilégio de tê-la como melodia), a música de nossa própria existência atrelada a uma existência maior, da chuva que cai nos permitindo respirar a paz e a calmaria, enfim, o silêncio fala, mas, precisamos nos calar para saber ouvi-lo.
O mundo nos ensina que a correria diária é processo construtivo do nosso ser, quando crianças tentamos identificar sons do ambiente, quando adultos nos prendemos aos sons produzidos pela tecnologia e perdemos a essência do silêncio uterino que nos embalou durante nosso surgimento. E assim seguimos tentando sufocar os gritos dissonantes que ecoam dentro de nós.
Ah... Se o silêncio falasse!!! Entregaria nossos medos e fragilidades, denunciaria nossos choros compulsivos das perdas inevitáveis, calaria o verdadeirismo de nosso ser, alarmaria nosso humanismo oculto. Diria que o escuro causa medo, que o domador de leões tem medo de altura, que o médico tem medo dos males e das doenças, que palhaços, donos do riso e da diversão, também choram por trás de suas pinturas caricatas, que o pai carrasco teve uma dura infância que, quando dizemos adeus na verdade gostaríamos de dizer apenas até breve e que o silêncio das ausências nos assusta, mas, é também um grande aliado dos nossos sentimentos e pensamentos presentes no mais profundo do nosso âmago.
O silêncio é bálsamo, pois, nos percebemos despidos de nossas duras carapaças, dos heróis e heroínas inventados para o enfrentamento diário, da insensibilidade forçada para não parecermos tolos, do ressentimento que, mesmo que tardio, é capaz de brotar por aquele abraço não dado.
Gosto de dizer que o ser humano é contradição e, o silêncio necessário também se vê contrariado: falamos muito quando devemos calar, ferimos almas, lançamos farpas, espalhamos fagulhas de dor por não termos sido capazes de silenciar. Outras vezes deixamos partidas acontecerem, amores irem sem volta, perdões não acontecerem, pessoas sábias se omitirem por falta de um reconhecimento que afague o seu ego revestindo-o de novas forças, somente porque a palavra certa fora calada.
O silêncio necessário nos permite provar da nossa própria companhia, do nosso auto perceber, de uma forma que passamos a ser mais, na medida em que o silêncio planta dentro de nós seu poderoso elixir da consciência existencial. 
Às vezes temos medo que o silêncio revele o que nós mesmos não aprendemos a ver, tirem de nós as certezas e seguranças que tanto custamos para adquirir, então procuramos fugir de seu ímpeto avassalador, pois, no silêncio ouvimos a voz de Deus longe das religiões conflitantes e o que Ele nos diz nem sempre é melodia aos nossos ouvidos, já que nos conscientizamos de nossa pequenez e, ser pequeno é algo que não queremos visto que nos remete ao inferior. Esquecemos, porém, que a voz que vem de nós e que se cala diante do turbilhão de sons e vozes diárias é a voz que nos reconhece como sendo perfeitos no próprio reconhecimento da nossa imperfeição.
O silêncio brota quando aprendemos que, mesmo em meio a uma multidão não somos apenas mais um, mas, somos a parte que complementa o todo. O silenciar é um ato que nos devolve a nós, à saudade de nós mesmos e, à certeza de que a essência da vida é iniciada a partir do silêncio que há em nós, cuja voz nos convida a nos percebermos o átomo principal da composição da vida.



ADRIANA PESCA

VIVER

Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...” Já poetizava o sábio Gonzaguinha: E a vida, o que é meu irmão?
Basta olharmos os milagres que acontecem a cada amanhecer e que por vezes deixamos que passem despercebidos sob a ótica de nosso modo restrito de vê-la. A vida é uma composição perfeita em sua essência dotada de uma maestria que só pode ser de fato compreendida e apreciada por aqueles que a reconhecem como algo de imensurável valor.
Viver requer muito mais do que passear pelas calçadas da existência. Por vezes traduzimos esse ato como sinônimo de acúmulos materiais, só assim a felicidade se concretiza materializada em bens corrosíveis, não que eles não sejam necessários, são... Ah como são, porém, não podem tornar-se o produto maior de nossas aspirações. Às vezes nos preocupamos tanto em adquirir, em ter, que perdemos a noção dos valores, de como a simplicidade de bons momentos podem gerar uma felicidade instantânea... Gargalhar com amigos em um lugar lotado pode parecer patético ou irresponsável, mas, gera uma alegria incontida... Palavras como bom dia, boa tarde, boa noite, obrigada, volte sempre, desculpa, contêm uma pitadinha da magia que desacreditamos existir... Frases como senti sua falta, parabéns pelo seu trabalho, você é especial, sem que sejam frases feitas, acendem a chama de nosso ego. É lamentável que os toques tenham se tornado escassos, as carícias pareçam sempre interesseiras, as relações de afetos se desfaçam por qualquer não querer que ultrapasse o nosso querer individual, mulheres e homens cada vez mais descartáveis estejam entrando em alta no mercado, pois, os mesmos fazem de si próprios, produtos. Isso não quer dizer que os toques e carícias estejam extintos entre as relações humanas, nããããooo, existem, mas, não com a mesma intensidade de outrora.
Viver meus caros, tem se tornado um eterno aprendizado sim, mas, para aqueles capazes de observar seu significado, que ultrapassam as barreiras do comodismo enfadonho onde somos sempre engolidos pelo monstro da insensatez... Ah, viver... São retalhos da existência que são aos poucos costurados para a composição da sua totalidade, pedacinhos de derrotas aqui, linhas de envelhecimento acolá, alegrias, tristezas, chegadas, partidas, mortes, nascimentos, flores, espinhos, mas, acima de tudo, essência, entrega... É preciso sorrir das besteiras que constroem, andar descalço pela praia, passear por paisagens que há muito já existiam, mas que não nos demos a oportunidade de conhecê-las mesmo estando tão próximas, afagar seu cachorro mesmo que ele pareça fedido e rabugento, se revoltar com as injustiças, mas vibrar muito mais quando uma só justiça puder ser feita, reclamar o lixo que enfeia a paisagem, mas, abrir os olhos para contemplar o belo que a própria paisagem produz.
Viver é não ter a vergonha de ser feliz... É não ter vergonha de se expor diante do belo, chorar quando valer a pena e sorrir após o choro compulsivo, se frustrar com as incertezas e fazer planos no momento seguinte, lamentar o tédio, desentediar o ócio, cantar no banheiro, beijar o espelho, ser feio e bonito quando se bem entender independente da ação da natureza. Enfim, viver é não ter vergonha de escancarar o seu eu mais alarmante... Calma, se esse eu for berrante demais, tome umas doses de “setocol” antes de sair por aí cometendo coisas insanas e absurdas, mas não saia de sua forma original, rompa com as visões narcisistas do mundo que quer modelar, mas, não deixe de querer pra si uma imagem bela... A vida é assim, pedaços de nós incorporados a outros muitos pedaços de outros, pois, em sua grandiosa perfeição ela só poderia ser mesmo imagem da imagem daquilo que todos os dias aprendemos e reaprendemos a ser, como eternos aprendizes da própria vida.
Viver, êô...



ADRIANA PESCA

TEMPO

Quando passamos a compreender a existência humana como parte de um processo evolutivo dentro de uma associação temporal, passamos a medir a passagem do tempo.  Mas, o que seria para nós o tempo?  A progressão da passagem das horas, dias, anos, mudanças seculares, transformações biológicas? Um amigo das dores, pai do esquecimento, aquele que cura as feridas mais profundas, que constrói castelos de vidro e destrói castelos de areia!
O tempo, ah o tempo... Indefinível. Findo, mas, ao mesmo tempo infindável, cronológico, mas, muito mais psicológico interior muito mais do que exterior. O tempo que envelhece a face, cria calos e rugas, é o mesmo tempo que rejuvenesce a alma, embora amadurecida pelo próprio tempo, pois, quanto mais velhos nos tornamos, mais jovens aprendemos a ser e mais maduros estamos.
Mas, o tempo amigos, é um ser com muitas faces e seu poder de transformação pode tanto atrasar nossos dias como acelerar o ponteiro do relógio da vida. Ele pode nos levar e nos trazer de momentos passados tão somente paramos para o exercício de pensar, de lembrar, de trazer à tona nossas saudosas passagens, estas podem nos alegrar ou entristecer, fazer-nos rir e chorar e às vezes até gargalhar como loucos porque o tempo da piada passou, mas o momento do riso só chegou agora, tamanho é o seu poder de nos fazer vivenciar o que já vivemos como se acontecesse hoje.
O tempo, meus nobres, pode ser amigo, mas, também inimigo, porque, lembrar que a pele antes rija tornou-se um tecido flácido, que bumbuns antes durinhos e seios arrebitados ganham outra dimensão, que os músculos antes exibidos com orgulho, são massas de gordura localizada, que os que antes se denominavam garanhões ou musas insaciáveis do prazer, hoje não vão além do primeiro “Round”, é algo nada agradável. Aí culpamos o tempo, ou a falta dele, para justificarmos o sedentarismo pela falta de caminhada, para o “fest food” quase obrigatório, ou ainda, porque era preciso relaxar, tomar aquela cervejinha, ou várias, madrugada a fora. Ainda não era tempo de se cuidar, cedo demais para pensar nas responsabilidades, tarde demais para voltar atrás e refazer o caminho, enfim, nunca é cedo ou tarde e sempre é cedo ou tarde.
Meus queridos, o tempo somos nós que o fazemos, o nosso tempo, pois, o verdadeiro tempo passa, os anos se vão e nós não somos seres imortalizados, nem possuímos uma máquina do tempo que nos permita ir e voltar quando precisamos. Daí que o tempo é sempre o agora, pois, será ele que definirá o que virá com suas causas e conseqüências, afetos e desafetos, mas, acima de tudo, repleto de oportunidades de fazermos do hoje o momento de ser e fazer, não como se o amanhã nunca fosse existir, mas, como se o próprio amanhã abrisse as janelas de nossos mais belos horizontes.

ADRIANA PESCA

UM POUCO DE MIM

Quem sou eu

Sou aquilo que a vida me permite sê-lo, numa travessia simplória nesse passeio terreno. De mim nada mais que a imagem dos sonhos que planto e rego, embora, por vezes não se saciem. Hoje, no tempo presente, um pretérito imperfeito conjuga meus verbos: amar, sonhar, viver, sorrir, chorar... Em uma infinidade de tempos, modos, com mil e uma desinências... Viver é o que vale, valer-se do que se vive. Sou então, contradição, emoção, intelecto, pulsar. Sou parte e sou todo, minúcia, retalho, átomo, mola mestra... Não me defino, pois, a própria vida de que faço parte se faz indefinível. O que poderia dizer de mim, nessa performance de  meu auto conhecer?  Ser inacabado que se compreende falho, mas, não se abstém de querer mais acertos, que sem alardes passa pela vida, mas, não sem antes lançar algumas fagulhas de existencialismo, que vê nos livros a semente de conhecimento que movimenta os moinhos da sabedoria, alguém que se permite embriagar-se de vinhos e de palavras rabiscadas a qualquer impulso, em qualquer papel, fixadas em linhas e movidas pelo desejo das entrelinhas enigmáticas. Não... Não poderia permitir uma tradução para aquilo que sou, pois o ser que vive em mim ainda não se fez conhecedor de si mesmo, antes indecifrável do que irreconhecível, sou eu, junção de afetos, crenças, sanidade. Antes, profunda e palpável, mas, em mim mesma, ser em construção, ou ainda, mitologicamente indecifrável. O que dizer então? Recorro à mitologia dos enigmas: “Decifra-me, ou te devoro.” Assim serei eu então, uma eterna busca por me descobrir para apresentar-me ao outro tal como sou.

ADRIANA PESCA