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terça-feira, 27 de março de 2012

Entre nós


Tentar compreender o amor assemelha-se a imergir em um oceano, é possível contemplarmos sua amplitude e vislumbrar seus limites, porém, sob tal superfície há outro mundo, totalmente incompreensível, tamanho é o seu subterfúgio, no entanto, é possível percebermos, por meio da explosão de vida em seu interior, que um mergulho profundo não nos permitiria jamais emergir sem que nos tornássemos outro, ainda que sejamos os mesmos.
O que nos faz compreender o amor não é o significado real de suas definições, mas, sua própria indefinição presente no que costumamos chamar de “relação”. Como compreender um sentimento tão abstrato sem que antes tenhamos provado de seus efeitos colaterais. “Que eu possa me dizer do amor que tive:
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.” Dizia então, Vinícius de morais no que considero um dos mais belos sonetos, o soneto de fidelidade.  Caberia o infinito numa sentença de durabilidade?
O amor precisa de uma construção que caiba no plural de nossas certezas, onde haja sempre o “nós”, intenso como o próprio amor, cuja infinitude não se desfaça e o que dure, perdure sem que haja uma só intenção destinada a um só. O amor caminha sim em duas vias, é possível que em uma dessas andanças sejamos vistos com saudade de sermos um, porém, não com o mesmo sentimento de outrora, pois,  a própria liberdade leva-nos ao encontro do outro numa espontaneidade sem pudor.
Quando nos permitimos dizer o que há entre nós, passamos a compreender o amor, não descrevendo-o,  mas, simplesmente percebendo-o em cada gesto, em cada intencionalidade, sem máscaras e maquiagens, sem meio termos e meias palavras, enfim, é algo oferecido, e não pedido, exigido, cobrado...  Não pode haver entre nós, lacunas, espaços vazios, pontas soltas... Não se pode permitir que haja entre nós rascunhos, realidade crua, distâncias entremeadas pela presença não sentida.
A compreensão do amor é antes de tudo a compreensão de quem o carrega, a compreensão de que dois corpos são simplesmente  duas extensões metafísicas, mas, duas almas são o encontro de mundos distintos que não anseiam se completar pelas faltas que lhes cabem e sim que anseiam unir-se para serem acrescentados. Se antes, um só era capaz de descobrir a vastidão do mundo, dois se fazem capazes de fazer desta própria vastidão a certeza de que somente se pode ver o outro quando em si há espaço para  ver uma continuação  daquilo que somente entre,  “ o entre nós”, pode ser concebido, percebido e mesmo, compreendido. Só assim se pode tentar compreender o amor, esse sentimento de “pra sempres tão relativos”.

ADRIANA PESCA

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