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quarta-feira, 21 de março de 2012

O SILÊNCIO NECESSÁRIO

O silêncio não quer dizer solidão, mas, é a própria voz da consciência sussurrando em nossos ouvidos.
 Diante de tantos barulhos do mundo urbanizado desaprendemos a ouvir os sons do silêncio. Perguntamo-nos então: Como é possível ouvir os sons do silêncio, se o próprio silêncio nos remete à ausência destes?
Quem está em sintonia consigo entende o seu silêncio como um tempo de ouvir o que a presença das palavras não nos permite fazê-lo: As batidas do coração que denunciam o pulsar da vida, os sons da natureza ainda existentes, o barulho das ondas (para quem tem o privilégio de tê-la como melodia), a música de nossa própria existência atrelada a uma existência maior, da chuva que cai nos permitindo respirar a paz e a calmaria, enfim, o silêncio fala, mas, precisamos nos calar para saber ouvi-lo.
O mundo nos ensina que a correria diária é processo construtivo do nosso ser, quando crianças tentamos identificar sons do ambiente, quando adultos nos prendemos aos sons produzidos pela tecnologia e perdemos a essência do silêncio uterino que nos embalou durante nosso surgimento. E assim seguimos tentando sufocar os gritos dissonantes que ecoam dentro de nós.
Ah... Se o silêncio falasse!!! Entregaria nossos medos e fragilidades, denunciaria nossos choros compulsivos das perdas inevitáveis, calaria o verdadeirismo de nosso ser, alarmaria nosso humanismo oculto. Diria que o escuro causa medo, que o domador de leões tem medo de altura, que o médico tem medo dos males e das doenças, que palhaços, donos do riso e da diversão, também choram por trás de suas pinturas caricatas, que o pai carrasco teve uma dura infância que, quando dizemos adeus na verdade gostaríamos de dizer apenas até breve e que o silêncio das ausências nos assusta, mas, é também um grande aliado dos nossos sentimentos e pensamentos presentes no mais profundo do nosso âmago.
O silêncio é bálsamo, pois, nos percebemos despidos de nossas duras carapaças, dos heróis e heroínas inventados para o enfrentamento diário, da insensibilidade forçada para não parecermos tolos, do ressentimento que, mesmo que tardio, é capaz de brotar por aquele abraço não dado.
Gosto de dizer que o ser humano é contradição e, o silêncio necessário também se vê contrariado: falamos muito quando devemos calar, ferimos almas, lançamos farpas, espalhamos fagulhas de dor por não termos sido capazes de silenciar. Outras vezes deixamos partidas acontecerem, amores irem sem volta, perdões não acontecerem, pessoas sábias se omitirem por falta de um reconhecimento que afague o seu ego revestindo-o de novas forças, somente porque a palavra certa fora calada.
O silêncio necessário nos permite provar da nossa própria companhia, do nosso auto perceber, de uma forma que passamos a ser mais, na medida em que o silêncio planta dentro de nós seu poderoso elixir da consciência existencial. 
Às vezes temos medo que o silêncio revele o que nós mesmos não aprendemos a ver, tirem de nós as certezas e seguranças que tanto custamos para adquirir, então procuramos fugir de seu ímpeto avassalador, pois, no silêncio ouvimos a voz de Deus longe das religiões conflitantes e o que Ele nos diz nem sempre é melodia aos nossos ouvidos, já que nos conscientizamos de nossa pequenez e, ser pequeno é algo que não queremos visto que nos remete ao inferior. Esquecemos, porém, que a voz que vem de nós e que se cala diante do turbilhão de sons e vozes diárias é a voz que nos reconhece como sendo perfeitos no próprio reconhecimento da nossa imperfeição.
O silêncio brota quando aprendemos que, mesmo em meio a uma multidão não somos apenas mais um, mas, somos a parte que complementa o todo. O silenciar é um ato que nos devolve a nós, à saudade de nós mesmos e, à certeza de que a essência da vida é iniciada a partir do silêncio que há em nós, cuja voz nos convida a nos percebermos o átomo principal da composição da vida.



ADRIANA PESCA

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