Total de visualizações

quarta-feira, 21 de março de 2012

VIVER

Viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar a beleza de ser um eterno aprendiz...” Já poetizava o sábio Gonzaguinha: E a vida, o que é meu irmão?
Basta olharmos os milagres que acontecem a cada amanhecer e que por vezes deixamos que passem despercebidos sob a ótica de nosso modo restrito de vê-la. A vida é uma composição perfeita em sua essência dotada de uma maestria que só pode ser de fato compreendida e apreciada por aqueles que a reconhecem como algo de imensurável valor.
Viver requer muito mais do que passear pelas calçadas da existência. Por vezes traduzimos esse ato como sinônimo de acúmulos materiais, só assim a felicidade se concretiza materializada em bens corrosíveis, não que eles não sejam necessários, são... Ah como são, porém, não podem tornar-se o produto maior de nossas aspirações. Às vezes nos preocupamos tanto em adquirir, em ter, que perdemos a noção dos valores, de como a simplicidade de bons momentos podem gerar uma felicidade instantânea... Gargalhar com amigos em um lugar lotado pode parecer patético ou irresponsável, mas, gera uma alegria incontida... Palavras como bom dia, boa tarde, boa noite, obrigada, volte sempre, desculpa, contêm uma pitadinha da magia que desacreditamos existir... Frases como senti sua falta, parabéns pelo seu trabalho, você é especial, sem que sejam frases feitas, acendem a chama de nosso ego. É lamentável que os toques tenham se tornado escassos, as carícias pareçam sempre interesseiras, as relações de afetos se desfaçam por qualquer não querer que ultrapasse o nosso querer individual, mulheres e homens cada vez mais descartáveis estejam entrando em alta no mercado, pois, os mesmos fazem de si próprios, produtos. Isso não quer dizer que os toques e carícias estejam extintos entre as relações humanas, nããããooo, existem, mas, não com a mesma intensidade de outrora.
Viver meus caros, tem se tornado um eterno aprendizado sim, mas, para aqueles capazes de observar seu significado, que ultrapassam as barreiras do comodismo enfadonho onde somos sempre engolidos pelo monstro da insensatez... Ah, viver... São retalhos da existência que são aos poucos costurados para a composição da sua totalidade, pedacinhos de derrotas aqui, linhas de envelhecimento acolá, alegrias, tristezas, chegadas, partidas, mortes, nascimentos, flores, espinhos, mas, acima de tudo, essência, entrega... É preciso sorrir das besteiras que constroem, andar descalço pela praia, passear por paisagens que há muito já existiam, mas que não nos demos a oportunidade de conhecê-las mesmo estando tão próximas, afagar seu cachorro mesmo que ele pareça fedido e rabugento, se revoltar com as injustiças, mas vibrar muito mais quando uma só justiça puder ser feita, reclamar o lixo que enfeia a paisagem, mas, abrir os olhos para contemplar o belo que a própria paisagem produz.
Viver é não ter a vergonha de ser feliz... É não ter vergonha de se expor diante do belo, chorar quando valer a pena e sorrir após o choro compulsivo, se frustrar com as incertezas e fazer planos no momento seguinte, lamentar o tédio, desentediar o ócio, cantar no banheiro, beijar o espelho, ser feio e bonito quando se bem entender independente da ação da natureza. Enfim, viver é não ter vergonha de escancarar o seu eu mais alarmante... Calma, se esse eu for berrante demais, tome umas doses de “setocol” antes de sair por aí cometendo coisas insanas e absurdas, mas não saia de sua forma original, rompa com as visões narcisistas do mundo que quer modelar, mas, não deixe de querer pra si uma imagem bela... A vida é assim, pedaços de nós incorporados a outros muitos pedaços de outros, pois, em sua grandiosa perfeição ela só poderia ser mesmo imagem da imagem daquilo que todos os dias aprendemos e reaprendemos a ser, como eternos aprendizes da própria vida.
Viver, êô...



ADRIANA PESCA

Nenhum comentário:

Postar um comentário