Total de visualizações

quinta-feira, 22 de março de 2012

MEMÓRIAS


Memórias são pedacinhos de vida armazenados no cantinho de nossa lembrança. São elas que nos dão a certeza plena daquilo que somos. Por trás dos sonhos futuristas estão as centelhas de uma vida construída dia após dia, estacionadas numa parte do tempo que não volta, mas, que é capaz de produzir o presente.
  Há quem diga que a velhice é a fase da vida onde se volta a ser criança. Embora, ser criança seja uma dádiva, poderíamos pensar em tais afirmações como apenas parte de uma verdade concebida. A infância é a construção memorável do que seremos, a velhice por sua vez é a memorável recordação do que um dia acreditamos podermos ser e que, sendo-o, se pode ser revivido na eterna volta ao passado, preso em nosso córtex cerebral, a que poderíamos imaginativamente chamar de” máquina do tempo”.
Sim, às vezes é preciso ter “memória de elefante” para guardarmos tanta coisa, engavetadas, armazenadas, portanto, é importante retirar os acúmulos desnecessários também, pois, a memória é capaz de guardar lembranças que despertam sentimentos mesquinhos capazes de transformar a lucidez em obscuridade. A memória é uma arma do ser humano contra a passagem do tempo, pois, com ela mantemos esse tempo inconstante onde é possível pará-lo quando sentirmos a velocidade de suas travessias.
Se um dia acordássemos sem memória, como seria? Seria como ter em nossas mãos uma página em branco cujo conteúdo foi apagado misteriosamente, cabendo a nós reescrever uma história começada a partir do meio. Por isso, podemos pensá-la como algo tão valioso, pois, somente através desta é que poderemos contar nossa história, cantar nossas velhas canções, aquelas que mais marcaram em dias de chuva ou de sol, reviver cenas daquele filme água com açúcar e novamente se emocionar, trechos daquele livro lido há tempos, mas, vivo naquilo que nos tocou, amizades de infância que nunca se foram por completo, pois, alimentam nosso imaginário com suas participações especiais, a roupa que vestíamos naquele primeiro encontro, palavras que dissemos, fragrâncias que aspiramos,  aquele pilequinho constrangedor que gerou uma infinidade de gargalhadas e continua sendo motivo de piada, enfim, memórias memoráveis e rememoráveis que nunca se apagam.
Tudo isso é uma prova de nossa vida redigida em capítulos, histórias que compõem o nosso mapa imaginário, lembranças vívidas de nossa itinerância . Não é possível que passemos  por essa vida sem levar dela, no baú de nossas recordações, fotografias e momentos... Não é possível  não deixarmos também de nós, memórias para a vida de alguém... No sentido daquilo que somos é preciso que sejamos sempre memórias, de quem passou por nós e deixou de si, de quem levou de nós, de quem se fez memória em nós e para nós. Na intensa  arte de compor contos, que saibamos saber contar e recontar aquilo que só com boas memórias nos tornamos  capazes.

ADRIANA PESCA

Nenhum comentário:

Postar um comentário