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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Flores, texturas da alma


Hoje desejei falar de flores, não poderia dizer que é algo novo em minhas abordagens, porém, de um jeito diferente ela recai sobre o meu pensamento e toca minha alma, fazendo-me sentir a textura de seu toque. Numa tarde de sábado em que poderia desfrutar de um banho de mar reconfortante, preferi enclausurar-me em mim mesma, em companhia do silêncio, de um livro e de minhas reflexões, sem as quais eu não poderia ser quem sou, talvez pouco aos olhares externos, comum demais para ser notada, no entanto, o eu que me rege, tem reflexos de um poder divino que somente a mim se faz a compreensão.
Tenho enfrentado constantes questionamentos sobre a vida futura, como há muito não ousava fazer, passei a pensar nas construções cabíveis à vida, percebi que estou sempre oscilante entre os prós e os contras existentes nas escolhas, impasses inquietantes que me arrebatam  levando-me e trazendo-me a mim com uma constância inevitável.
A partir da leitura que me acompanhou nesta tarde de sábado desejei profundamente plantar um jardim para que enfeite minha casa e minhas certezas, para que me permita contemplar de sua beleza gratuita que só pede de nós que as regue e as alimente, mas, que em troca nos oferece muito mais do que poderíamos querer. Uma nova certeza foi plantada em mim, a de que um dia plantarei um jardim. Minha mãe, em sua sabedoria materna, sabe como ninguém contemplar e apreciar as flores e eu nunca soube compreender tanta amplitude na beleza que ela enxergava. Esta leitura trouxe-me também a lembrança da sabedoria que as mães possuem, de enxergar beleza nas superfícies quando nós precisamos de profundidade para encontrá-la. Definitivamente, plantarei um jardim.
A alma humana é pra mim um mistério que a minha própria humanidade não me permite desvendar, pois, a humanidade retira de nós o sacro, esbarro em minhas imperfeições e me perco dos sentidos sagrados por trás da criação. Falar de flores é também mergulhar nos mistérios sagrados, contemplá-las com a alma é acariciar texturas similares, acariciar flores é acariciar a própria alma humana, os segredos que regem o cultivo das flores são os mesmos que regem o cultivo de nosso ser, ambos possuem um processo que envolve lançar a semente, não sem antes preparar o terreno onde ela florescerá, regar para que germine, doar amor e condição para que viva e sobreviva, preparar um espaço adequado, enfim, fazer o preparo necessário para que a vida aconteça e nos dê a oportunidade de contemplá-la em sua plenitude. Um processo de vida que brota a partir da necessidade de possuirmos mais vida dentro de nossas certezas.
As flores são a metáfora de nossos sonhos plantados, onde nós somos os jardineiros. Precisamos ser fieis àquilo que estamos cultivando, plantar sonhos e flores são tarefas árduas, precisamos ofertar muito de nós, pois, teremos a compensação dos resultados, a contemplação do belo que nos será permitido, onde poderemos, a qualquer tempo, doar um pouco de nossas flores e partes de nossos sonhos, cujo aroma de felicidade chegará a todos, aos que tem acesso aos nossos jardins e àqueles que passam desapercebidos por nossas calçadas, porque, na mesma medida com a qual nos doarmos para que se concretizem receberemos deles suas inspirações, pois, será no caminho, no processo de feitura que encontraremos os porquês necessários da nossa existência. Sonhos e jardins precisam de pontos de partida e pontos de partilha, somente ao acreditarmos nas possibilidades de sua construção, poderemos chegar à contemplação presente em seus resultados, flores que se multiplicam, sonhos que se concretizam tornam-se texturas que deixam de ser apenas contemplação e passam a ser acariciáveis. Acariciar flores é acariciar a alma.

Adriana Pesca

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